Uma dessas "verdades" que a gente sempre escuta é que você deve amar seu trabalho mais que tudo no mundo, que só assim se é feliz.
Olha... Eu até concordo que gostar do que faz e ter uma paixão por aquilo seja importante. Afinal, é o que você faz na maior parte do seu tempo. Opa... Já acho estranho.
Acho estranho que a gente seja tão definida pelo trabalho. Quando perguntam: "O que você é?", a resposta é sempre sua profissão. Eu, Fernanda, sou mulher, adulta (mas nem sempre), capoeirista, filha da minha mãe e do meu pai, namorada do meu namorado, adoradora de doces, filmes e livros, estudante de francês, amiga dos meus amigos... Ah... Sou também redatora, e formada em Jornalismo.
Apesar de adorar meu trabalho, não me defino por ele. E não adoro trabalhar todo o tempo do meu dia. Me desculpem não ser uma praticante de horas extras infinitas. Assim como meu trabalho é importante, é também meu francês, minha terapia, meu almoço (eu não pulo almoço pra trabalhar como alguns dos meus colegas de trabalho), meu tempo à toa lendo em casa, minhas horas de corrida, encontrar com meus amigos, curtir meu namorado, meus projetos paralelos (não relacionados e relacionados à profissão)... Tudo isso é tão importante e merece tanto cuidado quanto meu trabalho.
Claro que a gente tem que equilibrar as coisas, né? Quando realmente é preciso que eu faça hora extra, eu faço. Deixo a corrida/francês/terapia/encontro com namorado pra outro dia. Mas se eu faço hora extra todo dia, deixo essas coisas pra que dias? Fins de semana? Mas eu não vou trabalhar no fim de semana? E meu almoço? Se abro mão dele todo dia, adeus saúde.
Eu volto a repetir que adoro meu trabalho, acredito que eu esteja contribuindo para a sociedade, acho-o importante e tudo mais, mas não acho que ele seja TODA a minha vida. Nem acho que deva ser.
Acho engraçado que a "cultura/mídia/sociedade" (difícil definir um sujeito) fale pra gente o tempo todo que você deve amar loucamente sua profissão, se definir por ela, tê-la como a coisa mais importante da sua vida, prioridade absoluta. E acho curioso também que sempre se fale de profissão como sendo nossa vocação, nossa razão de vir ao mundo; mas a profissão é o que mais? A nossa forma de ganhar dinheiro... Unh... E ter como consumir... Ah... E precisar cada vez mais consumir porque a mesma "cultura" (preciso de uma palavra melhor pra isso, mas não tenho) te diz que você é feliz e uma pessoa importante (pra quem?) se consome, se tem os produtos da moda e de tecnologia de ponta. E como você não está feliz (pois se mata de trabalhar e a vida não é só isso) continua comprando, e trabalhando mais para comprar mais, porque trabalhando e comprando você é uma pessoa legal, de valor pra sociedade.
Ah... É... Bom... Começa a fazer sentido...
Eu quero isso? Bom... Acho que não.
É o fofo do capitalismo, né? Você só é valorizado se, por um lado, produz/trabalha e, por outro lado, consome. Assim o sistema continua girando.
ResponderExcluirAndo pensando se vale a pena trabalhar horas sem fim para ter dinheiro para comprar bens que até o mês passado eu nem sabia que precisava.
mas de qualquer forma, sendo que você vai gastar pelo menos 1/3 do seu dia trabalhando, era bom que fosse um negócio que vc gostasse. só pra vc não querer se matar com o tirador de clips =D
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